Saturday, June 10, 2006

Carta aberta à ministra da educação

Excelentíssima ministra:

Vi com muita atenção a sua entrevista ao programa “ Diga lá excelência” transmitido na noite de domingo na RTP2. Depois de ouvir atentamente as suas explicações para a política adoptada por si e pelo governo para a reforma educativa gostaria de fazer aqui alguns reparos. Questionada sobre a polémica avaliação dos professores pelos pais dos alunos, a Sra. Ministra deixou claro que é necessária uma avaliação dos docentes por uma entidade externa à escola. Eu fui estudante durante muito tempo e tive alguns péssimos professores, e apesar das mudanças radicais que houve no ensino nos últimos anos penso que como em todas as profissões ainda hoje deve haver muitos maus professores, por isso não posso ser contra a avaliação dos docentes. Penso é que a medida adoptada por si, não tem sentido nenhum, primeiro porque a haver uma avaliação dos docentes esta deveria ser feita pelos alunos, que são os mais interessados e segundo porque não vejo como seja possível alguém avaliar um método de ensino sem nunca ter assistido a uma aula. No fundo o pais vão avaliar os professores por aquilo que os filhos (alunos) lhes dizem em casa. Acho que isto não tem lógica nenhuma e pode ser muito injusto para uma grande parte dos professores.
Na mesma entrevista, a Sra. Ministra expôs dois gráficos demonstrativos da evolução do ensino na última década. Nesses gráficos podia-se ver que o orçamento com o ministério duplicou e que o número de alunos decresceu, logo há neste momento menos alunos por cada professor só que na realidade o aproveitamento escolar não sofreu qualquer alteração é uma linha recta nos últimos 10 anos e só uma pequena percentagem dos jovens conclui o ensino secundário. Eu só posso estar de acordo consigo quando afirma peremptoriamente que é esse o grande problema da educação. É! Disso ninguém duvida! Agora a causa que vossa excelência aponta é que parte de pressupostos completamente errados. Para si, o problema está na escola e nos professores que indirectamente acusa de serem incompetentes havendo uma necessidade de os vigiar e avaliar e para isso propõem que sejam avaliados por pessoas (pais) que nunca assistiram a uma aula nem tem capacidades culturais e psicológicas para o fazer.
Ora aqui é que você perde a razão toda. Se houve um reforço do orçamento escolar se há uma relação nº professores/nº alunos maior, o insucesso escolar não pode advir das escolas e só não vê o problema quem não quer.
Eu pertenço a uma zona rural e como tal só posso falar do insucesso escolar na realidade que conheço, mas estou convencido que nas zonas urbanas mais problemáticas o problema será o mesmo só que os jovens em vez de terem de escolher entre serem trolhas ou continuarem na escola têm mais uma opção extremamente rentável, a de serem traficantes.
E é ai que está a verdadeira causa do insucesso escolar. Com a escolaridade obrigatória todos os jovens são obrigados a frequentar a escola até ao nono ano, mas muitos deles devido à educação que tiveram e à realidade económica dos pais começam desde cedo a sofrer pressões destes para abandonarem os estudos e irem trabalhar, ganhando assim algum dinheiro muito importante para ajudar o orçamento familiar, pois, os pais agricultores toda a vida com 2 campinhos e duas vacas vivem numa situação desesperante há muitos anos. Outros continuam na escola, mas não tem a mínima vocação para aquilo, aproveitam é o facto da escolaridade ser obrigatória para estarem na escola em vez de andarem com as vacas no campo que é muito mais duro. Só que o tempo vai passando e quando dão por ela tem 16,17 ou mesmo 18 anos e andam no oitavo ano e aí mais cedo ou mais tarde vão ter que optar, ou continuar na escola, ou seguirem as pisadas dos pais e continuarem ligados à agricultura (o que hoje em dia é impossível) ou partirem para a construção civil que é o que a maioria opta. Mesmo os que realmente tem vocação e interesse pela escola, mas tem dificuldades económicas passam por este problema. - Será que compensa andar mais 8 anos a estudar, a sacrificar os meus pais que dificilmente me poderão dar apoio para tirar um curso superior para depois de tantos sacrifícios tirar um curso e ir engrossar a lista de pós - doutorados no desemprego?
Se calhar o problema do insucesso escolar está aí e não nas escolas como a Sra. Ministra nos quer fazer parecer. Se calhar, a vossa politica está completamente errada e em quanto não resolverem os problemas fora da escola não terão o sucesso escolar que tanto desejam.
Os agricultores estão desesperados e se não se mudar de politica, daqui a 10 anos, não haverá agricultura em Portugal. Isso levará a um aumento dos preços dos elementos de 1ª necessidade e a uma preocupante desertificação das zonas rurais com reflexos inimagináveis para as escolas e para o meio ambiente (veja-se o caso dos incêndios florestais). A construção civil portuguesa tem sido o escape destes milhares de jovens, mas também me parece que já foi chão que deu uvas. Hoje cada vez mais o destino destes jovens é a imigração para Espanha. Resta-nos o bom senso de alguns pequenos empresários que tudo fazem para que tal não aconteça mas, com taxas de I.V.A. de 21% e com os combustíveis a preços proibitivos estão logo quase condenados à nascença.
Sra. Ministra, os alunos são um reflexo do país que vivem e é impossível mudar a mentalidade dos alunos sem mudar a mentalidade do país. Mas com as politicas que vocês estão a seguir, temo que daqui a 10 anos os gráficos que vossa excelência terá em mãos traçarão um cenário muito mais preocupante que os que apresentou ontem.

PS : Eu não sou professor
PSII: Sra. Ministra, a senhora também é professora e eu como pai vou vigiá-la.
A partir de hoje vai-me ter sempre à perna!!
PSIII: Essa de os professores só poderem dar 5 faltas num ano é de rir. quem falta muito não são os professores, são os seus colegas politicos que nunca pôem os pés na assembleia da républica.
PSIV: Um conselho de amigo, larga a Vodka!!

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